Em menos de duas semanas, milhares de navios serão forçados a usar combustível com menor teor de enxofre para cumprir regras globais estabelecidas pela Organização Marítima Internacional (conhecida pela sigla em inglês IMO). Quem não cumprir está sujeito a penalidades e até prisão. Os portos estão recorrendo a drones para farejar infratores (literalmente). Os regulamentos estão afetando profundamente as refinarias de petróleo e o custo do frete marítimo deve subir.
E por que tanta comoção? Por décadas, a indústria de navegação é usada pelo mercado de petróleo para despejar um poluente acusado de prejudicar a saúde humana (agravando a asma, por exemplo) e provocar a chuva ácida. Ainda assim, a chegada dos regulamentos, em outubro de 2016, chocou muita gente que esperava uma adoção mais tardia. Não há mais tanto pânico em relação aos preparativos, mas ainda há muito trabalho pela frente, como demonstrado pela queda no preço do combustível não enquadrado nas novas regras.
“IMO 2020 é a mais fundamental e dramática mudança de especificação de produto que a indústria do petróleo já vivenciou, com impacto no transporte marítimo e no refino”, disse Torbjorn Tornqvist, presidente da Gunvor Group, uma das líderes na negociação de petróleo e gás. “Tem o potencial de alterar cada produto e diferencial de petróleo na praça.”
O custo de envio de um contêiner de mercadorias da América Latina para a Europa pode aumentar em US$ 26, segundo a HIS Markit. O custo de um cruzeiro de uma semana poderia subir US$ 130 por cabine, estima a consultoria. Ainda é cedo para saber quais refinarias serão mais beneficiadas ou prejudicadas porque milhares de variáveis influenciam os lucros dessas operações.
Segurança
A indústria naval tem alertado consistentemente para questões de segurança nas regras, mas ainda não existe padrão único. O novo combustível deve simplesmente ter certas propriedades ? incluindo teor de enxofre e outras métricas importantes ? que não ultrapassem os níveis especificados.
Impacto no comércio
A transição já tem impacto sobre a logística marítima. Em Cingapura, maior centro de reabastecimento do mundo, os navios precisam esperar mais que o normal para obter combustível e o governo de Gibraltar alerta para a falta de embarcações de reabastecimento.
“Certamente haverá disrupção e criará alguns gargalos na cadeia de suprimentos no início, além de restrições logísticas quando se trata da obtenção de combustíveis marítimos”, avisa Robert Hvide Macleod, presidente da divisão de gestão da Frontline, que tem uma das maiores frotas mundiais de grandes navios.
O combustível representa a maior despesa do transporte marítimo e os novos tipos são sendo negociados com ágio de várias centenas de dólares por tonelada sobre o produto antigo. Portanto, o custo do frete marítimo pode subir se houver espaço para repasse.
“Acho que veremos seu impacto sobre o comércio global em termos de dias de espera e aumento de custos”, disse Sadan Kaptanoglu, presidente da BIMCO, a maior associação de transporte marítimo do mundo. “Pode até haver caos em situações extremas, em que a falta de combustível atrasa a entrega de cargas e navios não enquadrados são punidos por portos ou envolvidos em processos judiciais.”
Fonte: Portos e Navios